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Casas são um dos locais mais famosos onde ocorrem supostos eventos sobrenaturais, como aparições de espíritos, objetos que se movem de um lugar para outro, portas que se fecham e se abrem sozinhas, barulhos estranhos durante a noite, etc. No imaginário popular, em quase todas as casas ditas como “mal-assombradas”, houve no passado alguma morte, violenta ou não, que fez com que o espírito do morto ficasse de certa forma “preso” naquele lugar, inconformado com sua morte, e perturbando os vivos.
Casos desse tipo, principalmente de casas assombradas por almas penadas, existem desde a Antiguidade: talvez a primeira história escrita desse gênero seja de autoria do grego Plínio, o Jovem (61-113 D.C). Intitulada “A casa mal-assombrada”, nela uma casa e seus moradores são atormentados pelo fantasma de um velho acorrentado, que aparece a noite e anda arrastando correntes pelos corredores, soltando murmúrios e lamentos. Até que o filósofo Atenodoro, sabendo dessa história, resolver passar uma noite na casa para ver se presenciava tal aparição. À noite, como de costume, o espirito se manifestou para Atenodoro, e apontou para um local da casa e desapareceu em seguida. No dia seguinte, conta-nos Plínio, “[...] vai ter Atenodoro com os magistrados e suplica-lhes mandar cavar no lugar assinalado. Feito isto, acharam-se ossos ainda presos em cadeados e nada de carnes, porque o tempo as consumira. Depois de cuidadosamente reunidos, sepultaram-nos com publicidade. E, feitos ao morto os últimos ofícios fúnebres, não mais perturbou o repouso da casa.”
Em outros casos, a pessoa era tão apegada à sua casa e à seus bens materiais que se recusa a deixá-las para trás, mesmo depois de morto, permanecendo ali por muito tempo. De qualquer forma, as histórias de casas assombradas se tornaram um tema bastante conhecido seja na literatura, em filmes, séries de TV e também nos contos e causos populares. Em Assombrações do Recife Velho, obra de Gilberto Freyre sobre os fantasmas e causos sobrenaturais de Recife, existe uma seção inteira dedicada às casas assombradas da cidade, geralmente onde existe algum tesouro enterrado que é guardado por espíritos brincalhões. E, como este é um livro sobre histórias de assombração do município de Quixeré, não se poderia deixar de falar de uma certa casa, hoje em dia transformada em ponto comercial, mas que no passado era a residência da senhora Ivone e de seu marido Salomão, em que ela e outras pessoas, mais de uma vez, presenciaram fenômenos estranhos e “visagens” dentro da residência.
As ocorrências sobrenaturais eram muitas e bastante frequentes. Nessa época- por volta do final dos anos 80- em frente à casa ficava uma parada de onde os ônibus para as outras cidades saiam e onde as pessoas iam comprar as passagens. Ocorria de algumas vezes o motorista ter que dormir na casa para acordar cedo e seguir viagem. Em certa ocasião, contou-me ela, que seu marido Salomão, ao acordar durante a madrugada, passou por um corredor e viu um motorista já de pé e arrumando-se para sair, ajeitando a gravata. Cumprimentou-o, mas ele não respondeu. Ao voltar do banheiro, viu novamente o mesmo motorista se arrumando, e da mesma forma deu um “tudo bom?”, que novamente não teve resposta por parte do motorista, dando a entender que não tinha escutado. Ele então perguntou à sua mulher, dona Ivone, quem era aquele motorista misterioso, ao que ela respondeu que naquele momento não tinha nenhum motorista na casa, pois já tinham saído para seguir viagem. Esta foi uma das mais famosas visagens de que ela se recorda.
Outras coisas estranhas que aconteciam naquela casa eram sons de passos pesados no meio do corredor durante a noite, e cuspidas vinda do nada. Certa noite, ela estava dormindo com uma amiga, quando a mesma a acordou e disse que alguém estava cuspindo no chão no meio delas, entre as duas redes, porém não havia mais ninguém no quarto junto com elas. Também se escutava o barulho de alguém destrancando as portas, e ao chegar para ver, as portas estavam trancadas como se nada tivesse acontecido. Em certa ocasião, a luz do banheiro parecia acender e apagar sozinha, e ouvia-se inclusive o barulho do interruptor ao ser ligado e desligado. Em um dos quartos, onde ficavam seus netos, um deles disse certa vez que uma rede pendurada na parede estava balançando sozinha e que viu um vulto de um homem andar pelo quarto e entrar num armário que ficava embutido na parede. Ela então, achando que seria brincadeira do menino, foi verificar o que ele tinha contado, mas ao abrir a porta do armário não tinha ninguém lá dentro. Em outra ocasião ela mesma passou a acreditar quando presenciou o tal vulto passando pelo quarto e desaparecendo logo em seguida.
E essas aparições não se manifestavam apenas para as pessoas da casa, mas também para gente de fora que vez por outra vinha se hospedar na casa. Uma dessas pessoas foi um homem chamado que veio trabalhar no Quixeré e ficou por um tempo em sua casa e não sabia ainda nada das coisas estranhas que lá aconteciam. Em uma noite, tendo já voltado do serviço e ido para o quarto para tomar banho e se deitar, contou que tarde da noite escutou, do lado de fora do quarto, barulhos como das empregadas da casa lavando os pratos e conversando alegremente. Ao abrir a janela para olhar porque elas estavam trabalhando tão tarde, deparou-se com o local em completo silêncio e no escuro total. Tendo contado depois o ocorrido à dona da casa, ela apenas disse que já estava acostumada e que “aqui é assim mesmo”
Estas foram algumas das coisas estranhas que aconteciam na antiga casa de dona Ivone de Salomão, e que a mesma se lembra até hoje. Atualmente, ela mora em outra casa, e a sua antiga residência for transformada em ponto comercial, por onde muitas pessoas passam todos os dias sem imaginar a rica história sobrenatural do lugar.
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